Ela estava para chegar e eu aguardava
ansiosamente pela sua visita. Amava aqueles cabelos longos, castanhos e
encaracolados como os meus, mas não longos como os dela. Eu a admirava pela sua
beleza, delicadeza e suavidade que transparecia sem nenhum esforço. Era assim que
a via nos meus frágeis quatro anos de idade. Meu tio também a amava. E vez ou
outra a trazia em casa.
Quem a visse não imaginava que ela
era uma pessoa forte. Talvez fosse essa força que a tornava tão meiga. Para o
meu olhar infantil, ela era simplesmente linda! Era ela que costurava lindos
vestidos para mim. Tecido de “lese”, com fitas de cetim coloridas que trançadas
se transformavam num lindo cinto. E, então, eu me sentia a garota mais feliz e
bonita do mundo. Seu capricho e cuidado no corte e na costura fez dela uma
grande costureira, atividade que ela desenvolve até hoje atendendo às muitas
encomendas em sua cidade. Por isso, um quadro pitoresco faz parte do cotidiano
daquele lar: uma mulher com marcas do tempo, mas, nem por isso menos bela,
sentada atrás de uma máquina de costura. Seus pés pousam sobre o pedal e o
ronco suave do motor daquela ferramenta faz-se ecoar naquele espaço tão
especial quanto sua dona.
Mas, no dia em que a vi dirigindo um veículo
até então, guiado por homens, passei a
admirá-la ainda mais. Então vi que ela era realmente uma mulher de muita força
e coragem. Decidi: serei como tia Cena, como ela era chamada (seu nome é
Iracena). Dirigia um veículo de grande porte, um caminhão com maestria e
segurança. Não, não havia uma moça como tia Cena nas redondezas.
Tem coisas que ficam gravadas para
sempre, é como se fossem impressas em nossa mente. Todas as vezes que degusto
algo com sabor de baunilha, me vem à memória fragmentos de uma festa. Consigo
ver um grande bolo de noiva quadrado e de muitos “andares” como dizia minha
mãe. O sabor? Baunilha. Vejo-o todo decorado com aquela bolinha prateada. Foi
assim mesmo, a festa do casamento de tia Cena e Tio Ilson. Muita comida,
preparadas em panelas enormes e muitas garrafas de guaraná.
Outra lembrança boa e saborosa foi de
uma vez que fomos visitá-la e ela nos serviu melão com açúcar. Era um melão
muito grande, não sei a sua espécie, mas sei que era saboroso. Gosto muito de
melão e é impossível comer sem lembrar tia Cena.
Mas, as lembranças boas e saborosas,
não param por aí. Morávamos num sítio interior do Paraná. Não tínhamos muitos
recursos e então tia Cena e tio Ilson mandavam pelo correio, uma mala cheia de
roupas que minha mãe “customizava” ( hoje sei que aquilo que minha mãe fazia é
o que hoje se chama customização). Isso é uma lembrança boa e talvez tenha
herdado de minha mãe esse recurso que amo usar: customizar. Mas, a lembrança
saborosa é de quando eles foram nos visitar. Moravam em São Paulo e ficaram
conosco por uma semana, foram até outra cidade, ficaram uns dias por lá e
depois voltaram à nossa casa para mais uns dias antes de retornar à capital
paulista. Dessa vez traziam na bagagem muitas cocadas. Brancas e queimadas. Eu
sou apaixonada por coco e quando acabou o que ela tinha nos dado, muitas vezes
“assaltei” aquela mochila em que continha aquelas gostosuras. Até hoje não sei
se ela sabe que eu fiz isso.
Essa visita de meus tios marcou muito
a minha vida. Pois foi quando aconteceu de me tornar “mocinha”. Recordo-me de
quando brincava comigo e me dava dicas de como comportar, o que podia e o que
não podia fazer. Não gostei do acontecimento justamente por ocorrer durante a
visita deles.
Essa mulher singular, marcou minha
vida com boas lembranças, recordações que o tempo nem de longe tentou apagar e
nem mesmo quando me lembro de algo horrível, pelo menos para mim, ela deixa de
ser amável. Foi quando minha mãe comprou uns tecidos e pediu que fizesse uns
vestidos para mim. Então ela me levou para sua casa para tirar as medidas e
experimentar as roupas. Como morava distante tive que dormir na casa dela.
Então, aconteceu algo muito chato para os meus cinco aninhos: fiz “xixi” na
cama. Quando me viu apavorada, riu e cuidou de mim.
Foi aí que sonhei pela primeira vez
(pelo menos que eu me lembre como sonho). Queria dirigir, não só caminhões, mas
qualquer veículo. Cresci com esse sonho bem guardado em uma das minhas
gavetinhas (cerebral).
Recordo-me de uma vez que participava
de um curso de Aperfeiçoamento no Magistério, quando logo no início o
palestrante fez uma pergunta tínhamos que responder oralmente: Qual o seu maior sonho? Não titubeei ao chegar minha vez e
respondi: Dirigir automóvel e tocar violão. A imagem de tia Cena dirigindo sempre foi incentivadora, por isso, hoje dirijo, já tocar violão...Um domingo magnífico a todos.
ResponderExcluirViajei no seu bonito texto, Dirce!
Não sei se foi no seu fusca rosa, mas tenho certeza que a vi sentada na varanda, tocando violão, afinal, sonhos não envelhecem!
Tenha um ótimo domingo!
Bjksss
Interessante... ontem vi um fusca cor de rosa aqui perto de casa! nunca tinha visto um fusca rosa, e agora lendo seu texto e vendo que você mantem o fusca rosa dentro dos sonhos, cheguei a sorrir.É estranho ver um fusca rosa, mas não é estranho ver uma mulher dirigindo um caminhão.
ResponderExcluirAdorei conhecer sua tia Cena e seu tributo a ela.
eu também tive uma mulher que eu admirava muito, minha madrinha Lalinha. Madrinha de crisma.
Como a sua tia, Lalinha costurava meus vestidos de fita, e eu queria ser como ela. Não consegui, porque ela era única.
Como é bom recordar algo bom assim, as cocadas, o jeito dela t conduzir como a futura mocinha, tudo isso somatiza o que você é. Uma pessoa segura de si, dedicada as artes, que sabe dirigir e que ainda poderá aprender a tocar o violão.
Por que não?
tenha um domingo abençoado
beijos
Zizi
Dirce, q/belas recordações de criança, como é bom relembrar da nossa infancia, dos nossos sonhos e até dos nossos medos. São momentos q/ficam guardados p/sempre e basta um aroma, um sabor, uma música p/virem a tona.
ResponderExcluirParabens pelo post.
Tenha uma semana cheia de paz.
Bjs,
Rai
Oi Dirce, tava sem net, por isso tô chegando agora.Boas recordações da infância e da sua tia, tenho alguns momentos que também guardo com carinho e quanto ao seu fusca rosa, lembrei de coisas que tinha vontade de ter e usar mas que nunca tive nem usei, e pra mim foi melhor não ter mesmo, afinal os gostos mudam né? ainda bem!rsrs.Também já quiz tocar violão, mas desisti porque precisava ter unhas sempre aparadas, a vaidade foi mais forte!Lindo texto, parece que tô lendo um livro, vou continuar acompanhando os próximos capítulos!Bom começo de semana!
ResponderExcluirBjos!
Boas lembranças realmente, eles marcaram nossa infância pelo carinho, ajuda em momentos difíceis. quanto a tia ela não dirigia só o caminhão, mas também um calhambeque preto que era do pai dela, lembra. quanto ao fusca rosa dou um conselho; dirija um punto branco e você vai achar melhor ter o fusca só no sonho rsss... violão é difícil, e com certeza Deus sabendo disto deu a você o dom de ministrar e bem a sua Palavra e ser benção para a Igreja e toda família. Deus te abençoe.... bjos e boa semana.
ResponderExcluirboas lembranças de pessoas queridas que foram uma referencia na nossa infância, pelo carinho e ajuda em momentos difíceis. quanto a tia ela não dirigia só o caminhão como também um calhambeque preto que era do pai dela, lembra. quanto o fusca dou um conselho: de uma volta em um punto branco e você vai achar que é melhor ter o fusca rosa só no sonho ok rrssss. sobre o violão é muito difícil, mas não fique triste pois Deus deu a você o dom de ministrar e bem a Palavra Dele, sendo uma benção para a família e a Igreja.
ResponderExcluirBoa semana Bjos....